Do reencontro com as palavras e comigo

 

Imagem por  Aaron Burden

     Ando com a escrita tentando achar nas palavras um jeito de me encontrar. A escrita, além da minha profissão, cumpre em mim o papel de autoconhecimento. Antes de chegar a esse texto preenchi várias páginas de um diário com palavras que diziam sobre mim, sobre nada e sobre o quanto quero acalmar as minhas águas internas. Precisei bagunçar todas as palavras no caderno. 

     É difícil orientar um caminho dentro de uma cabeça cansada, traumatizada e perdida. Eu decidi pelo diário, porque precisava escolher cada passo com cuidado nesse novo ambiente. Não têm função nenhuma os textos no diário. Ele organiza minha mente, meus sentimentos, meus medos, mas as palavras em si, elas não servem pra nada. Eu não preciso avaliar cada uma com um sentindo específico pra atender cada texto, encontrar a palavra certa. Eu só escrevo. 

      Eu sou a minha maior juíza, julgando tudo como certo e errado. O peso aumenta consideravelmente. Muitas vezes o trabalho fica focado em não usar a escrita como forma de açoite. Eu ainda consigo enxergar a escrita como ela é: transformadora, pungente e equilibrada. Ela evidencia cada existência. A gente brinca com as palavras, mas elas não são brincadeira. São coisa séria. 

     Sigo trabalhando para tirar de tudo: o líquido viscoso e um pouco da poeira. Com cada tentativa eu tento um poema: essa é minha brincadeira por agora, por que preciso reencontrar muita coisa.

Eu criei meu próprio arco-íris.

Eu irriguei cada faixa de sol chanfrada

E cada partícula de água coloriu de uma cor.

 

Cada batida é uma água que me inunda

E eu corro ao sol e viro um arco-íris

Sorrindo ou não.

 

Virando ou não um arco-íris

busco por um sempre

Se não acho um eu crio pra mim.

 

 Eu como brasa incandescente aquecia  e me queimava

 Mas agora eu me banho do rio cheio de mim

Me banho da possibilidade de virar arco-íris a cada raio de sol.