Pela fresta da janela eu vejo a poesia em tons de rosa dançar sobre a minha frustação tardia

 

Acervo Pessoal



     Eu escrevo sempre com honestidade, mas tenho sempre uma leve timidez em revelar meus poemas. Eles sempre acontecem no meio de uma explosão onde sou vulnerável em forma de poesia e esqueço todos os riscos. O medo sempre aparece. Eu sempre pergunto todos os “E se?” possíveis. Quando estava trabalhando no meu primeiro livro, eu às vezes pensava: meu Deus tanta gente que vive comigo ou me conhece vai me enxergar inteira nesse livro. Talvez eu a cumprimente discretamente quando passar por mim e continue andando na rua. 
     Mas eu me senti mais forte depois. Eu sempre me sinto mais forte. A escrita é o único caminho para que eu renasça do meu medo. E eu tenho tido muitos. Mesmo estando estabilizada do TAB, ainda tenho coisas pra aprender como gente adulta que foi uma criança metade traumatizada metade feliz. Porque eu sei que fui feliz muitas vezes. Mas agora eu sou gente adulta normal. Eu levei 35 anos pra me tornar “quimicamente” “normal”. Eu tô me estranhando desde então. Eu me reconheço por pequenos detalhes, diria que pela falta deles. Eu sinto falta de enxergar minhas possibilidades apesar das minhas dificuldades. Apesar de ser comum pra mim, a parte de sentimentos ruins como depressão profunda e enlaçada nos meus pilares, eu não sinto falta mesmo. Eu gosto de estar estabilizada, eu posso descansar agora. Eu não preciso estar no modo batalha (porque era sempre uma batalha). 
     Quando comecei a escrever o diário, eu não sabia, mas eu estava encarando o medo de me reconhecer ou talvez me conhecer pela primeira vez. É impossível não ter medo quando você não reconhece nada. Agora tenho só meus traumas pra cuidar. Depois que TAB me deixou brincar no meu canto eu percebi que o que chamo de trauma tem tamanho pra isso. Das vezes que falo sobre eles na terapia eu sempre me sinto diminuir e ficar pequena na cadeira. Enquanto minhas falas se tornavam um dragão enorme na sala. 




Eu sempre queimo em raiva 
vazio, 
vertigem,
medo,
abismo. 
Com cada letra entrelaçada 
eu luto contra cada dragão que criei envolto a cada dor dilacerante
Das outras vezes eu sempre me senti a bruxa 
agora eu sou o próprio fogo 
Eu escolhi ser poesia: 
Eu queimo e renasço




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