Manhã embebida de memórias

 

Acervo Pessoal



  A fresta de luz é amarela no sofá da sala. O pó que levantei da cômoda dança dando cambalhotas na luz e fico parada nos três segundos em que meu corpo se prepara para o espirro. 08 horas de uma manhã de domingo e minha faxina vai muito bem obrigada. É difícil passar o fim de semana faxinando, mas é melhor que me sentir sozinha. Quando limpo, a casa conversa comigo.  E eu respondo com espirro às vezes. Inevitável. 
  Coloco a foto da família de volta na cômoda e começo a limpar o chão. Enquanto passo pano avidamente repenso que vovó era a cola que unia a família imensa. Os almoços de domingo eram agitados. Eu sempre gostei das gargalhadas barulhentas, o farfalhar dos talheres caindo na pia (minha tia Lúcia era estabanada, coitada) e vovó batendo a colher de pau na beirada da panela. Todo o caos se misturava de uma maneira familiar. Cada detalhe da alvenaria e dos móveis antigos escondem  um pouco da nossa história, mas sem ninguém pra contar, tudo se torna matéria. De toda herança da Vó ficaram só as memórias e os ecos.



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