Eu finquei meus pés na terra molhada

      Hoje cedo, no trabalho, senti cheiro de terra molhada. Eu particularmente gosto muito. Depois de um período seco, a chuva cai e apaga a poeira, é o que dizem por aqui. Mas nada apaga um ser. As coisas só se mesclam. A terra molhada cheira alto e eu me canso de resistir. Ela tira toda essa defesa. Meus olhos pesam. Meu corpo pesa. Eu deveria dizer todo esse texto em voz alta mas minha alma não existe em dias como esse em que emudeço de chuva. 
     Me sinto como num dramalhão bem mexicano, mas em todas as vezes eu nunca me enxergo de forma positiva, mesmo conhecendo tudo de bom que tenho. É uma roupa que não me serve, mas que insisto em usar. Às vezes me pergunto se fiz dessa versão uma regra. 
     Sim, pode ser que eu chore. Pode acontecer de eu chorar as vezes. Principalmente se me acumulo em uma poça de coisas não ditas. As vezes acabo transbordando e choro. A pressão pode ser demais. Às vezes paro em frente ao espelho, me olho nos olhos tentando entender o que a bailarina quis dizer esse tempo todo. 
     Ainda sinto o cheiro de terra molhada. Ela trouxe um pouco de paz e algumas lágrimas aos olhos. Então respiro fundo e minha amiga diz: E tá tudo bem, amiga. Lembro de não tentar resistir a tudo mesmo tentando resistir a essa verdade. Fluir como um rio calmo, claro. Definitivamente viver não é pra amadores. 
     Coloco uma música calma, fecho os olhos e então me sento num banco de praça com um copo de café e observo o silêncio da cidade adormecida. Me espreguiçaria feito os raios de sol ao nascer, se pudesse. Daria um abraço morno feito o sol recém-chegado se pudesse. Mas eu posso. Meus olhos se abrem.








Comentários

  1. Tu é muito maravilhosa! Texto muito lindo e me vi nele em muitos aspectos.
    Jeg elsker deg.

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