Desatando o Nós

 

“O menino de ontem me plange” 
Manoel de Barros 



Foto: Mohamed Nohassi por Unsplash



Eu era uma criança até ontem. Eu me sentia perdida. Eu queria minha mãe de mãos dadas comigo. Eu aprendi a amar meus dedos dançando no ar quando era pequena. A dança que sempre existiu em mim, só renasceu quando saí da rodinha do ramster de ser adulta responsável pelo “giro de capital” da humanidade. Eu coloco café numa xícara que minha mãe ganhou de casamento e encaro a sonoridade inexplicável na minha cabeça. Ela é sinal de que estou muito mais perto da unidade dentro de mim. É que antes existia a Lucila por fora e a que estava amordaçada por dentro e não sabia pedir ajuda. Eu ainda não sei me explicar. Eu esqueço que não tenho mais a mordaça. Eu me confundo e fico louca porque nada faz sentido quando abro a boca. Mas quanto mais eu me jogo mais me uno às partes que se soltaram. Quanto mais tento encontrar formas de falar mais me sinto em uníssono. Existia uma árvore e uma bailarina dentro de mim. Cada camada precisou ser quebrada para que eu pudesse encontrar a seiva que as une como parte de um inteiro. Precisei parar de fazer sentido pros outros e ter o sentido em mim. Então descobri um pouco do vento que faz de tudo o que sou uma dança nas alturas. É sublime.



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