Dédalo

 


Foto de @qwitka de unsplash

   Num diálogo interno escrachado, debochado e ligeiramente irritado me coloco em ebulição. Eu pareço louca da vida por me perceber como que "de repente" tão condescendente. Eu nunca fui dona das minhas atitudes, mesmo sendo responsável por elas. Espero sempre que elas próprias (as atitudes) decidam criar vida antes mesmo que eu as pense (pra não dar chance de desistir). Espero, espero, espero... Sou eu lá do outro lado do rio esperando que minha própria sombra não se afogue ao atravessá-lo. 


    "Agora é a sua vez! Eu estou aqui esperando você me ensinar a crescer."

   Eu toda confusa sempre pensei que havia me perdido, mas não sei se algum dia sequer me pertenci. Usei meu ego machucado como muleta. E aqui estou eu, manca, perdida e com amnésia. 

   Nós somos os mesmos que cruzaram a barreira do tempo e se sentaram lado a lado na sala de aula, então porque não podemos dividir a mesma expectativa, como quem divide o lanche no recreio? 
  Talvez fosse falta de charme. Talvez seja aquela falta de tato ou talvez seja você. Mas vou continuar tentando, talvez um de nós acorde e perceba que já perdeu tempo demais com quem não merece. 

   As palavras são fluidas como tempo. Funcionam como âncora às vezes. Dessa forma elas podem machucar quando são duras e pesadas e nos afundam. Não só a sombra. O corpo todo. Só o ego é que flutua. Ele fica agarrado a uma cadeira velha, pequena, enferrujada, quadrada e obsoleta. Ele passa a ser a única forma de oxigênio e é por isso que eu tenho sufocado aos poucos. Por isso e por apego a quem já fui. Ou a todas as pessoas que fui e que me ajudaram a não ser.


Comentários

  1. Caramba, publiquei um texto que conversa com o seu, acho, hoje no Instagram. Isso de não se pertencer é algo que acho que acontece muito, né, até porque são tantos nos falando quem a gente deve ser, que a gente esquece um pouco de olhar quem somos de verdade.

    Texto belíssimo, como sempre. Fico impressionada como você consegue colocar sentimentos em palavras de um jeito tão único e belo.

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    1. Oi, Liv. Fico feliz que tenham gostado! As pessoas passam a vida toda buscando pertencimento. Acho que tem um pouco de humanidade nisso. Mas a sociedade bagunça tudo, o que já é em si um processo confuso.

      um beijo,
      Lu

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